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segunda-feira, 28 de março de 2011

Maria dos Santos: a contadora de histórias


Maria dos Santos escreveu o seu primeiro livro aos 9 anos, não para ser escritora, mas para ter o que ler. Como não podia comprar livros, ela decidiu escrever os seus próprios para suprir sua necessidade de leitura. "A princesa Sonho no reino da educação" conta a história de uma princesa que se perde quando passeia pelo bosque do palácio real e acaba chegando no reino do analfabetismo, onde se depara com muitas outras personagens, caracterizados de forma maniqueísta.

A história escrita para o público infantil fala de princesas, príncipes, guerreiros e bruxas, mas acaba contanto um pouco do drama da pequena Maria dos Santos, hoje com 35 anos, e mãe de duas filhas maiores de idade. A luta contra a malvada Injustiça, travada pelos protagonistas romanescos é um sinal do que sente a professora que se transformou numa contadora de histórias.

Até os 16 anos, Maria dos Santos escreveu dezenas de contos infantis que acabaram sendo conhecidos por toda a sua vizinhança na periferia de Ipanguaçu. "Escrevi uma caixa, dessas de fogão, bem cheinha de histórias".

Neste tempo, foi vítima de suas próprias criações. Uma senhora se encantou pelo seu trabalho e os trouxe para Mossoró na tentativa de encontrar alguém que os quisesse publicar. 

Cinco anos mais tarde, isso se concretizou, mas não como ela esperava. Maria dos Santos afirma ter sido lesada por essa senhora - que ela prefere não revelar o nome - que publicou algumas das histórias como sendo dela.

"Fiquei tão revoltada e triste com o acontecido que parei de escrever", confessou Maria. Contra a apropriação indébita de propriedade intelectual ela nunca fez nada, como também nunca procurou a criminosa. Só voltou a escrever mais de 10 anos depois desse episódio, porque foi incentivada pelos colegas de trabalho.

Maria nunca publicou um livro, embora boa parte de Ipanguaçu já tenha lido os seus contos. Neste ano, a prefeitura garantiu publicar um trabalho seu de poesia. Mais recente, o ex-secretário de cultura do Estado e editor Crispiniano Neto, da editora IMEPH, se comprometeu em olhar uma de suas obras infantis.

Contação de história
Professora da rede municipal de ensino, Maria dos Santos é mola mestra de um projeto que tem projetado Ipanguaçu no cenário dos municípios leitores. A atração de projetos voltados à educação e ao incentivo à leitura faz parte de uma mudança comportamental, não só da administração, mas também da comunidade escolar.

A professora começou a contar história para suas turmas do Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas despertou o interesse da Secretaria de Educação que a convidou para contar história em todas as séries da rede municipal.

O resultado pedagógico desse trabalho complementa um projeto, chamado: Ipanguaçu, cidade que lê, lançado em 2009, para incentivar a leitura em sala de aula.

Maria, conta estórias em todas as séries do ensino fundamental - do 1º ao nono ano - desenvolvendo uma metodologia diferente em cada uma delas, mas sempre trabalhando com aquilo que ela escreve. "Para as crianças eu leio meus contos de fada: uso fantoches; sento-me no chão e faço com que eles participem criando as estorinhas comigo. Já com os adolescentes das séries mais avançadas, escrevo coisas relacionadas à suas idades: bulling, drogas e outros assuntos que possibilitem uma reflexão. Sempre trabalho uma lição no final", contou Maria.

Maria diz que a literatura é, para ela, uma necessidade e sente que para muitos dos seus alunos é a mesma coisa. "Tenho uma aluna que diz que escreve para ela mesma por não ter com quem conversar", acrescentou.

A Secretaria de Educação investe nesse projeto. Para a secretária Jeane Dantas, o investimento não é muito, mas os resultados são. "Estamos plantando uma sementizinha que um dia vai brotar. A educação não acontece em curto prazo, mas as pequenas ações fazem uma grande diferença no futuro", acrescentou.


Ipanguaçu: uma cidade que lê
Em 2009, quando lançou o projeto Ipanguaçu, uma cidade que lê, a secretária Jeane Dantas não imaginava quantas pessoas se envolveriam no projeto. Logo de início conseguiu o apoio de uma editora que enviou mais de 600 quites de livros, atendendo centenas de alunos. "Com esse pequeno passo implantamos "a hora da leitura" na escola, que prevê que, numa hora comum, todas as escolas parem suas atividades para fazerem a leitura de algum gênero literário", contou. Jeane explica que nem todas as escolas conseguem manter a ideia viva, por vários motivos, mas só a iniciativa possibilitou uma mudança de hábitos em muitos alunos.

O aparecimento de Maria dos Santos foi outra iniciativa que fortaleceu o projeto inicial. Hoje, Ipanguaçu é uma das poucas cidades do Estado que mantém esse tipo de atividade pedagógica. "Uma de nossas metas é fazer com que nosso aluno termine o ensino fundamental lendo, escrevendo e interpretando. É o que a educação nacional chama de "criança leiturizada", uma terceira fase do processo educacional que começa com a criança letrada e alfabetizada", explica Jeane.

As atividades de leitura também são realizadas na rua. Dentro do projeto "cidade que lê", foi instituído três momentos: o Tenda Literária, que é quando as crianças fazem recital, leituras e apresentação de peças, e o Literatura na Praça, com as mesmas atividades, só que em maior escala. Ambos acontecem toda sexta-feira última de cada mês.

O último momento é o Fest Leitura, que reúne em dezembro todas as escolas em cortejos pelas ruas da cidade até um local específico, onde é realizado um grande momento literário. Neste ano, o tema será literatura e, embora só aconteça em dezembro, as escolas já estão se programando. O evento acontece na semana de emancipação política do município.

Fonte: Jornal de Fato/JOTTA PAIVA
De Ipanguaçu

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