Ricardo Araújo
Da Tribuna do Norte
Poucas instituições de saúde estiveram tão presentes na história dos natalenses e dos potiguares em geral, como o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Desde as crises (no abastecimento, superlotação e corredores que remetem aos campos de guerra, com tantas macas e feridos) às vidas salvas na emergência. Ao chegar aos 38 anos de fundação, o maior complexo hospitalar do Rio Grande do Norte possui fôlego para continuar recebendo, em média, 400 pacientes diariamente. Graças ao esforço do seu corpo médico, considerado o melhor do Estado, a instituição não sucumbe, diante de tantas dificuldades estruturais.
Aos 14 dias de março de 1971, o então governador do Rio Grande do Norte, o próprio Walfredo Gurgel, inaugurava o Hospital Geral e Pronto-Socorro de Natal. Um marco para a saúde pública na capital potiguar. No mesmo ano da fundação, morria, vitimado por um câncer de pulmão, uma das figuras religiosas e políticas mais influentes do Estado, o monsenhor Walfredo Gurgel. Em sua homenagem, o complexo hospitalar mudou de titulação e nome. Desde o início de suas atividades até hoje, a história do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel foi marcada por enchentes, crises financeiras e pacientes sendo atendidos nos corredores.
Os relatos iniciais dos primeiros atendimentos realizados no hospital foram apagados por duas enchentes que destruíram parte do antigo arquivo em 1996 e 2001. Boletins de atendimento, prontuários e o que poderia subsidiar um senso acerca da quantidade de pessoas que foram atendidas no hospital se perdeu. Sobraram apenas as lembranças na memória dos funcionários mais antigos, como o chefe do arquivo Erivaldo Siqueira, 53 anos.
Comemorando 33 anos de trabalho no Walfredo Gurgel, ele relembra como eram feitos os prontuários. "Existia um funcionário para preencher a ficha dos pacientes e interná-los. Era tudo manual e infelizmente estes relatos se perderam quando a água invadiu a sala do arquivo", relembra Erivaldo. Hoje, ele cuida de um acervo com cerca de 250 mil fichas de internações, prontuários e boletins. Falta espaço, porém, para tantos papéis e a estrutura recentemente adquirida para comportar as caixas de arquivo já é insuficiente.
O gerenciamento de crises no Walfredo Gurgel é histórico. Certa vez, nos idos da década de 80, o então diretor Jussier Magalhães (que também era cirurgião plástico), convidou José Agripino, governador do Estado naquele período, para uma visita ao hospital. Propositalmente, o diretor retirou todos os pacientes do setor de queimados das enfermarias e os colocou no corredor de entrada. Desta forma, ele expôs a falta de insumos para a troca de curativos e a situação extrema na qual se encontrava o hospital naquele momento.
Décadas se passaram e a realidade se mantém atual. Em 2010, o hospital enfrentou uma das suas piores crises que culminou com a renúncia de cinco dos seis diretores que compõem a administração do complexo. Apesar do acúmulo de trabalho e das condições adversas, os médicos que integram o corpo clínico do hospital, assim como os residentes que aprendem na unidade o ofício da medicina, se orgulham do trabalho que realizam no Walfredo. Muito, porém, precisa ser feito pelo hospital para que possa se comemorar, de fato, mais um aniversário.
Fonte: Jornal de Fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário