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domingo, 21 de novembro de 2010

Emparn prevê bom inverno para 2011

Os agricultores potiguares têm uma boa notícia para 2011. O monitoramento climático da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN) aponta sinais concretos de um bom período chuvoso para o próximo ano, principalmente por conta do resfriamento do Oceano Pacífico. Como se sabe, em termos de clima, os modelos não são exatos e algo pode mudar. Mas esse é o cenário que emerge dos mapas e imagens de satélite da Emparn, segundo o meteorologista Gilmar Bristot.
Gilmar conversou com a reportagem da Tribuna do Norte e alertou para o extremo oposto da situação de 2010: ao invés de seca, enchentes. A ocorrência de chuvas normais ou acima do normal pode ocasionar enchentes em regiões como o Vale do Açu e o Vale do Apodi. "É uma informação importante para os gestores tentarem diminuírem os efeitos negativos nessas duas áreas críticas", aponta.

COMO está o monitoramento para o período chuvoso do próximo ano?
UMA das variáveis mais importantes para detectar e estudar o clima é a temperatura dos oceanos. O que se pôde ver até outubro de 2010 é um cenário favorável no que diz respeito ao Oceano Pacífico. O Pacífico é o maior oceano do planeta e tem mais influência do que o Atlântico, que é mais relevante para o Nordeste e o litoral brasileiro. O que temos visto até então é um resfriamento da superfície do Oceano Pacífico e, caso esse cenário se mantenha, podemos dizer que há grande probabilidade de um inverno normal em 2011. Sempre lembrando que o primeiro diagnóstico oficial desse processo será possível somente em dezembro desse ano.

QUE outras variáveis são importantes?

HÁ o Oceano Atlântico, que é muito mais dinâmico. Não há como dizer muito a esse respeito nessa época do ano, mas caso a situação no Atlântico fique mais favorável, com resfriamento de algumas regiões específicas, haverá um inverno entre normal e acima do normal. Observações da última semana mostram essa tendência. Se isso for concretizado, teremos plenas condições para um período chuvoso entre normal e acima do normal.

QUAIS as conseqüências diretas disso?
CONDIÇÕES favoráveis para a agricultura, para o armazenamento de água nos grandes reservatórios e a ocorrência de problemas de enchentes em algumas regiões. No Rio Grande do Norte, são principalmente duas: o Vale do Assu e do Apodi. Nesses dois locais, com chuvas entre normal e acima do normal poderá haver problemas de inundações, como já foi verificado. Isso acontece principalmente por problemas ambientais, como a ocupação do solo, remoção de matas ciliares e assoreamento de rios, como também pela característica desses dois vales. São duas bacias com embasamento cristalino, o que propicia o escoamento da água e não a infiltração. Por isso, essas são áreas críticas, com potencial de alagamento. Numa situação de enchente, haveria prejuízos para a agroindústria, para a carcinicultura, entre outras atividades. São informações que precisam ser levadas em consideração pelos gestores para evitar prejuízos ainda maiores.

NESSE ano, a Emparn fez orientação no que diz respeito à seca?

SIM, fizemos um trabalho com a Secretaria de Agricultura para orientar os agricultores. É importante dizer que a Emparn, neste ano como em outros, acertou 100% nos seus prognósticos. Dissemos que não se deveria investir em culturas que necessitam de chuvas mais bem distribuídas e por mais de 60 dias. Orientamos a distribuir sementes de feijão, em detrimento de outras culturas como girassol e milho. O resultado é que quem plantou girassol, por exemplo, perdeu tudo, porque o período chuvoso não foi favorável.

EM 2010, tivemos o fenômeno "El Niño", responsável pela diminuição das chuvas. E neste ano? Existe uma periodicidade para o El Niño?
NÃO há ainda como estabelecer um padrão. Somente com o monitoramento é possível afirmar algo com um certo grau de certeza. O que há de certo é o resfriamento e o esfriamento dos oceanos. No caso do Pacífico, ora ele esfria ora ele esquenta. Quando esquenta, temos o El Niño, com probabilidade de menos chuva, e quando ele esfria temos o fenômeno "La niña". O mais provável é que haja "La niña" em 2011 por conta do resfriamento do Oceano Pacífico. Somente com o monitoramento é possível afirmar com certeza, principalmente com o aquecimento global.

HÁ algum projeto específico da Emparn sobre esse assunto?
SIM, estamos finalizando um estudo sobre a relação entre o aumento da temperatura e a agricultura no Estado. Justamente para saber qual o panorama para daqui a 20 anos, por exemplo, como as mudanças climáticas vão influenciar nas principais culturas atualmente. O algodão, por exemplo, não tem como ser cultivado como era há alguns anos no semi-árido. Um aumento de um grau significa muita coisa, haverá menos água disponível no solo porque a água irá evaporar mais rápido com a temperatura mais alta.

VOLTANDO à questão do 'inverno', o que dizer em relação às chuvas de dezembro e janeiro?

CASO a atual situação persista, é normal que haja chuvas no litoral e no interior no mês de dezembro, embora essas sejam chuvas um tanto quanto imprevisíveis. Um dado interessante é que tivemos o mês de outubro mais chuvoso desde que a Emparn começou a fazer essa medição em algumas regiões do Estado. Tivemos locais com acumulado de chuva de mais de 100 milímetros. Fizemos um levantamento aqui na Emparn e nos cinco anos onde o mês de outubro teve chuva acima da média, o ano subseqüente também foi agraciado com um bom inverno. Esse tipo de estatística não é considerado seguro, mas em conjunto com os outros fatores, é uma boa notícia.

A MEDIÇÃO que a Emparn faz pelo Estado é segura?
O ESTADO não tem custo algum para conseguir essa medição. Os pluviômetros estão distribuídos em mais de 200 pontos pelo Rio Grande do Norte e voluntários fazem essa medição. Todos os dias, no início da manhã, policiais, funcionários da Emater e outros voluntários vão até o medidor e passam os dados para a Emparn. O sistema tem falhas? Claro que tem. Poderia ser mais profissional? Com certeza. Mas é o que temos para oferecer nesse momento. A Emparn adquiriu 10 medidores automáticos, que enviam esses dados diretamente para os nossos computadores. Esses medidores serão instalados em breve, mas por enquanto usaremos o atual sistema.

Fonte:  Jornal de Fato/ Isaac Lira, Repórter.

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