Viajar pelos livros é uma atividade fácil e prazerosa. Qualquer um, independente da situação financeira, pode, através da leitura, conhecer o mundo, as culturas e muita gente. Mas, para Danilo Bezerra, de 17 anos, as viagens são reais e, mais do que fazer parte da realidade, os livros permitiram que ele realizasse sonhos.
Dono de uma biblioteca com mais de três mil títulos, ele é referência para vizinhos e colegas que precisam acessar algumas obras. Mas se engana quem pensa que se trata de uma adolescente de classe média do interior. Danilo mora numa casinha simples sem muros e sem calçada na localidade rural de Três Altos, distante cinco quilômetros de Almino Afonso, na região do Alto Oeste Potiguar.
Apaixonado pela literatura desde criança, ganhou a preferência dos professores, que passaram a lhes presentear com livros. Ganhou tantos que em 2008 já tinha mais de 300. Foi aí que teve a ideia de disponibilizar o acervo para a comunidade, montando em setembro de 2008, quando ainda cursava o primeiro ano do ensino médio, a Biblioteca Comunitária Presidente Juscelino Kubitschek.
O nome não foi escolhido à toa. Danilo é aficionado pela história do ícone de Brasília (DF). Esse interesse começou quando uma professora pediu que ele falasse de três ex-presidentes. Os escolhidos foram Getúlio Vargas, Itamar Franco e JK. A determinação deste último pelo projeto de Brasília mudou a vida do estudante. "Eu me sinto como ele. Do mesmo jeito que ele lutou por um projeto que ninguém acreditava, eu também luto pela minha biblioteca", disse.
Montar a biblioteca na sala da casa não foi fácil. Seus pais - Francisco Vicente Vieira, 54 anos, agricultor analfabeto, e Mara Núbia Bezerra, 40 anos, dona de casa com ensino fundamental incompleto - quase disseram não, mas quando viram o empenho do filho, mudaram de ideia.
O apoio foi importante porque em três anos a biblioteca passou de 300 para três mil livros, conquistados por doação de instituições e admiradores da luta do menino.
BRASÍLIA E OS LIVROS
No próximo dia 15, Danilo Bezerra, que nunca tinha andado de avião, vai a Brasília pela terceira vez desde 2010. A primeira vez foi a convite do próprio Senado, após ganhar um concurso de redação nacional. A disputa, que tinha como tema Brasília dos Brasileiros, aconteceu em todos os Estados e ele foi o único vencedor no Rio Grande do Norte.
Convidado para receber o prêmio - um computador -, foi a Brasília e teve a oportunidade de conhecer o Instituto JK e a tão sonhada Cidade Satélite, além de poder pedir apoio para o seu projeto ao próprio presidente do Senado, José Sarney.
No último mês de setembro, ele foi pela segunda vez à terra de seu presidente. Agora, para ser homenageado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). É que o órgão se interessou pela história de Danilo, após receber dele uma carta pedindo doação de títulos. Entendendo que essa atitude representava o cumprimento de sua função social no país, o Instituto, além de atendê-lo, solicitou autorização para fazer um documentário sobre o adolescente para ser exibido na festa de 45 anos da fundação do Ipea.
Depois do lançamento na capital federal, Danilo foi ovacionado por autoridades federais e internacionais, ganhando a admiração de muitas delas. "O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que a minha história foi uma das mais bonitas que já ouviu", disse Danilo.
Além de aguardar muitos apoios de todo o país, o contato, nesse evento, com a secretária de Educação do RN, Bethânia Ramalho, também lhe redeu promessas.
Por ironia, Danilo volta a Brasília novamente no próximo dia 15, ainda para receber a premiação por aquele concurso de redação do Senado, que foi entregue na primeira vez. Ele lamenta por isso, mas diz que vai aproveitar para conseguir mais apoios.
Danilo sabe que talvez o dinheiro gasto com ele só em passagens desse para construir um prédio para sua biblioteca, ou, quem sabe, comprar um ônibus para que ele e seus colegas deixem de ir para a escola em um pau-de-arara.
Da Redação do Jornal de Fato
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