Foto: Cezar Alves |
"Eram três. Duas grandes e uma pequena. Esta aí não conseguiu sair. As outras duas sumiram no mar", conta o jovem Aureliano Garcia, de 12 anos, um dos primeiros garotos a perceber a presença de uma baleia Jubarte encalhada na Praia de Upanema, perto do Farol, no município de Areia Branca na manhã dessa quinta-feira (20).
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), de Mossoró, foi avisado, mas só chegou ao local ao meio-dia. Enquanto o Ibama, Polícia Ambiental e os pesquisadores do Projeto Cetáceos da Branca, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), não chegaram, as crianças se aproximaram muito do animal.
Em algumas ocasiões, as crianças subiam na Jubarte, um comportamento condenado pela pesquisadora/doutora Bernadete Fragoso, do Projeto Cetáceo. "Imagina se este animal estivesse se debatido? Também não é aconselhável se aproximar para não estressar o animal e também para evitar, inclusive doenças. Não se sabe que tipos de fungos estes animais transportam", explica.
Bernadete disse que pesquisa este tipo de baleia há mais de 10 anos e que já resgatou outro exemplar desta espécie há poucos anos. Ela iniciou ontem mesmo o trabalho para desencalhar a Jubarte na Praia de Upanema, em Areia Branca. "Demoramos a chegar porque estávamos em outro estado", justifica. O primeiro passo foi retirar todas as pessoas da água, de perto da baleia.
Depois foi recomendado aos pais das crianças que estavam na água perto da baleia para banhá-las com água e sabão neutro em casa, para eliminar possíveis fungos. O segundo passo foi organizar a estrutura necessária para puxar a baleia para águas profundas. Não se trata de tarefa fácil, diante de um animal medindo mais de dez metros e pensando mais de 20 toneladas.
"Este tipo de resgate às vezes demora até 3 dias, pois as embarcações precisam de autorização para navegar, é preciso material especial e muito resistente para desencalhar um animal marinho deste porte", destaca a pesquisadora, lembrando que nestas condições a Jubarte chega a resistir até 5 dias. "Vamos usar colírios nos olhos e alguns tipos de pomadas e lençóis para evitar desidratação da pele".
O trabalho de resgate só será possível em maré alta. Ontem à tarde a maré estava no ponto "morto", como classifica os pescadores da comunidade. É quando a maré sobe e desce lentamente. A previsão de maior maré, no caso, é entre meia-noite e 2 da madrugada. Será neste momento que os pesquisadores, com suporte logístico de rebocadores, vão fazer a primeira tentativa de desencalhe.
Os pesquisadores e os fiscais do Ibama disseram que vão se empenhar ao máximo para desencalhar a Jubarte, mas os moradores da comunidade disseram que não acreditavam nesta possibilidade. "Eles não têm equipamentos adequados, muito embora demonstrem empenho, diz o comerciante Francisco de Assis, acrescentando que já aconteceu este tipo de encalhe em Areia Branca e o animal terminou morrendo.
Esta é a segunda baleia que encalha em Areia Branca
A pesquisadora Bernadete Fragoso disse que não é possível determinar precisamente o que teria atraído a baleia ao litoral do Rio Grande do Norte, ao ponto de encalhar num banco de areia. O animal, que não tem hábito de nadar em grupos, pode ter encalhado devido a alguma doença ou até mesmo desorientação.
Na praia de Upanema, em Areia Branca, juntou um grande número de curiosos, que vieram da sede do município e também das cidades de Grossos, Serra do Mel e Porto do Mangue, para ver a Jubarte, que, como técnica de caça, usa um canto que geralmente desnorteia os cardumes de peixes. Pescadores relatam que o canto da Jubarte deixa até eles desnorteados.
Há poucos anos, segundo informa o comerciante Francisco de Assis, uma baleia Jubarte encalhou na areia da praia de Pedra Grande, entre as cidades de Areia Branca e Porto do Mangue. No caso, os pescadores e pesquisadores não conseguiram salvar o animal. Faltou estrutura adequada para o resgate.
SOBRE A JUBARTE
A baleia-jubarte, que tem como nome científico Megaptera Novaeangliae, também é conhecida como baleia-preta, baleia-corcunda, baleia-xibarte, baleia-cantora ou baleia-de-bossa. Os machos da espécie medem de 15 a 16 metros; as fêmeas, de 16 a 17. O peso médio é de aproximadamente 40 toneladas. É uma espécie protegida por lei desde 1967. Em estudo realizado em 2008, chegou a estimativa da existência de aproximadamente 40 mil animais no mundo.
Fonte: Jornal De Fato
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