O pouco que o agricultor Antônio Inácio Mendes, 61, plantava para o sustento da mulher e dos quatro filhos foi embora com as chuvas. Junto, também desapareceram os R$ 400 que ajudavam a família a andar com as próprias pernas no sítio Ubarana, em Ipanguaçu.
O Diário de Natal esteve no município do Vale do Açu e acompanhou o drama de algumas famílias da região. Uma pequena parte da cidade continua alagada. A maioria das pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas começavam a voltar. A cidade foi alagada pelas enchentes, provocadas pelas cheias dos rios Açu e Pataxós. Mais de 5 mil pessoas foram afetadas. Ao todo, 234 moradores ficaram desabrigados e 620 foram desalojados de casa. Algumas famílias foram abrigadas numa escola da cidade, outras alugaram casas em locais mais seguros ou acabaram hospedadas por famílias solidárias ao sofrimento alheio.
Apesar do nível da água ter baixado consideravelmente nos últimos dias, a rua da família Mendes, que não tem nome, segue inacessível para automóveis. Para pegar as cestas básicas doadas pelo Governo do Estado e procurar emprego, os moradores têm que arregaçar a bainha das calças se quiserem chegar secos do outro lado da via. Algumas pessoas reclamaram que as cestas têm sido distribuídas na parte seca da cidade, embora todos tenham recebido pelo menos uma. A energia da área mais afetada foi cortada para evitar uma tragédia maior que a perda de móveis e eletromésticos da maioria das casas. ‘‘Plantava feijão, jerimum e milho. Perdi tudo. Até o meu cercado a chuva levou. Foram também as cadeiras, o guarda-roupa e a televisão. Sei o que vai ser não’’, disse o agricultor Antônio Mendes.
Como se procurasse um consolo para amenizar a situação, ele contou que com o transbordamento do Rio Pataxós, a pescaria ficou mais fácil. Com a mão direita repleta de peixes, disse ameaçando um sorriso que, ao menos, a família teria o que comer naquela noite. ‘‘Quando está vazando o rio chama logo a água. E aí os peixes vêm também. Esses (peixes) eu peguei ali perto do rio. Ficou melhor’’, afirmou.
Vizinho de Antônio, o agricultor desempregado, Joaquim Gonzaga de Souza, 43, também era a imagem da desolação. Terá trabalho para reconstituir a casa, uma vez que nem o velho sofá da sala sobrou para contar história. Indagado sobre a assistência do governo na região, Joaquim dá voz a uma indignação conformada. ‘‘Governo é governo. Governo não se importa com ninguém. Só lembra de pobre em ano de eleição’’, desabafou o agricultor que plantava manga e banana num sítio de propriedade de uma empresa da região, mas que agora só conta com a esposa para sustentar os quatro filhos: ‘‘A mulher vai arrumando um bico aqui outro acolá para ajudar, né? Mas é isso mesmo. A feira que o governo deu já acabou e o jeito é esperar’’, lamentou-se.
Solidariedade durante enchente
A agricultora Maria da Conceição Olípia, 43, conta rindo que não sabe como cinco pessoas conseguiram dormir no colchão que serviu de abrigo para uma família logo que começaram as enchentes em Ipanguaçu. Isso, claro, no ápice das chuvas, quando 15 pessoas abandonaram suas casas para morar num pequeno galpão onde ela guarda parte das mercadorias que vende para ajudar a pagar as contas no fim do mês. Além da família, Maria abriu as portas e deu abrigo a quem aparecesse sem teto. Um idoso, que vive sozinho numa casa humilde da região, aceitou o convite e se hospedou no lar provisório. ‘‘Só num colchão dormiram cinco pessoas. Outras ficaram em redes, num outro colchão, em lençóis também. Agora melhorou, estamos só com três famílias aqui’’, afirmou.
Aos poucos, as coisas vão melhorando na Rua Projetada, bairro Manoel Bonifácio, em Ipanguaçu. Apesar de algumas pessoas já terem voltado para casa, o galpão ainda abriga televisão, estante, geladeira e um fogão. A sensação da comunidade, no entanto, é de que o pior passou. De lembrança, ficam as histórias: ‘‘Minha sobrinha veio para cá (o galpão) porque uma traíra (espécie de peixe) entrou nadando na casa dela quando a água invadiu. Ela ficou com medo e está agora com a gente’’, conta, agora, se divertindo.
O instinto de solidariedade de Maria da Conceição se une a outro desejo: o de lutar pelos direitos da comunidade. Depois de oferecer um teto aos desalojados, a agricultora quer responsabilizar uma empresa de fruticultura da região pelos estragos causados no sítio Ubarana, onde mora. Segundo ela e todos os outros moradores da área, as consequências das enchentes foram agravadas pela construção de um dique que liga a empresa até o rio Pataxós, no município.
Direitos
O canal serve para evitar que as águas invadam a propriedade. Em contrapartida, os moradores mais humildes sofrem porque a água fica acumulada nos arredores e, com as últimas chuvas, atingiu em cheio as casas do sítio Ubarana. Foi então que Maria teve a ideia de recolher assinaturas dos moradores exigindo a retirada do dique construído pela empresa. Até quarta-feira passada, 42 pessoas assinaram o documento. ‘‘Já falamos com a empresa, mas eles ameaçaram chamar a polícia. Aí resolvi fazer esse abaixo-assinado. Vamos entregar à Promotoria de Justiça e se não adiantar iremos até os jornais. Estou deixando passar um pouco essa situação para voltar a correr atrás das assinaturas’’, disse. Rafael
O Diário de Natal esteve no município do Vale do Açu e acompanhou o drama de algumas famílias da região. Uma pequena parte da cidade continua alagada. A maioria das pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas começavam a voltar. A cidade foi alagada pelas enchentes, provocadas pelas cheias dos rios Açu e Pataxós. Mais de 5 mil pessoas foram afetadas. Ao todo, 234 moradores ficaram desabrigados e 620 foram desalojados de casa. Algumas famílias foram abrigadas numa escola da cidade, outras alugaram casas em locais mais seguros ou acabaram hospedadas por famílias solidárias ao sofrimento alheio.
Apesar do nível da água ter baixado consideravelmente nos últimos dias, a rua da família Mendes, que não tem nome, segue inacessível para automóveis. Para pegar as cestas básicas doadas pelo Governo do Estado e procurar emprego, os moradores têm que arregaçar a bainha das calças se quiserem chegar secos do outro lado da via. Algumas pessoas reclamaram que as cestas têm sido distribuídas na parte seca da cidade, embora todos tenham recebido pelo menos uma. A energia da área mais afetada foi cortada para evitar uma tragédia maior que a perda de móveis e eletromésticos da maioria das casas. ‘‘Plantava feijão, jerimum e milho. Perdi tudo. Até o meu cercado a chuva levou. Foram também as cadeiras, o guarda-roupa e a televisão. Sei o que vai ser não’’, disse o agricultor Antônio Mendes.
Como se procurasse um consolo para amenizar a situação, ele contou que com o transbordamento do Rio Pataxós, a pescaria ficou mais fácil. Com a mão direita repleta de peixes, disse ameaçando um sorriso que, ao menos, a família teria o que comer naquela noite. ‘‘Quando está vazando o rio chama logo a água. E aí os peixes vêm também. Esses (peixes) eu peguei ali perto do rio. Ficou melhor’’, afirmou.
Vizinho de Antônio, o agricultor desempregado, Joaquim Gonzaga de Souza, 43, também era a imagem da desolação. Terá trabalho para reconstituir a casa, uma vez que nem o velho sofá da sala sobrou para contar história. Indagado sobre a assistência do governo na região, Joaquim dá voz a uma indignação conformada. ‘‘Governo é governo. Governo não se importa com ninguém. Só lembra de pobre em ano de eleição’’, desabafou o agricultor que plantava manga e banana num sítio de propriedade de uma empresa da região, mas que agora só conta com a esposa para sustentar os quatro filhos: ‘‘A mulher vai arrumando um bico aqui outro acolá para ajudar, né? Mas é isso mesmo. A feira que o governo deu já acabou e o jeito é esperar’’, lamentou-se.
Solidariedade durante enchente
A agricultora Maria da Conceição Olípia, 43, conta rindo que não sabe como cinco pessoas conseguiram dormir no colchão que serviu de abrigo para uma família logo que começaram as enchentes em Ipanguaçu. Isso, claro, no ápice das chuvas, quando 15 pessoas abandonaram suas casas para morar num pequeno galpão onde ela guarda parte das mercadorias que vende para ajudar a pagar as contas no fim do mês. Além da família, Maria abriu as portas e deu abrigo a quem aparecesse sem teto. Um idoso, que vive sozinho numa casa humilde da região, aceitou o convite e se hospedou no lar provisório. ‘‘Só num colchão dormiram cinco pessoas. Outras ficaram em redes, num outro colchão, em lençóis também. Agora melhorou, estamos só com três famílias aqui’’, afirmou.
Aos poucos, as coisas vão melhorando na Rua Projetada, bairro Manoel Bonifácio, em Ipanguaçu. Apesar de algumas pessoas já terem voltado para casa, o galpão ainda abriga televisão, estante, geladeira e um fogão. A sensação da comunidade, no entanto, é de que o pior passou. De lembrança, ficam as histórias: ‘‘Minha sobrinha veio para cá (o galpão) porque uma traíra (espécie de peixe) entrou nadando na casa dela quando a água invadiu. Ela ficou com medo e está agora com a gente’’, conta, agora, se divertindo.
O instinto de solidariedade de Maria da Conceição se une a outro desejo: o de lutar pelos direitos da comunidade. Depois de oferecer um teto aos desalojados, a agricultora quer responsabilizar uma empresa de fruticultura da região pelos estragos causados no sítio Ubarana, onde mora. Segundo ela e todos os outros moradores da área, as consequências das enchentes foram agravadas pela construção de um dique que liga a empresa até o rio Pataxós, no município.
Direitos
O canal serve para evitar que as águas invadam a propriedade. Em contrapartida, os moradores mais humildes sofrem porque a água fica acumulada nos arredores e, com as últimas chuvas, atingiu em cheio as casas do sítio Ubarana. Foi então que Maria teve a ideia de recolher assinaturas dos moradores exigindo a retirada do dique construído pela empresa. Até quarta-feira passada, 42 pessoas assinaram o documento. ‘‘Já falamos com a empresa, mas eles ameaçaram chamar a polícia. Aí resolvi fazer esse abaixo-assinado. Vamos entregar à Promotoria de Justiça e se não adiantar iremos até os jornais. Estou deixando passar um pouco essa situação para voltar a correr atrás das assinaturas’’, disse. Rafael
Fonte: Diário de Natal
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