Rapaz viciado em crack desde os cinco anos pede ajuda. Mas falta estrutura para auxiliá-lo
Um adolescente de 14 anos fugiu do Centro Educacional (Ceduc) Nazaré, unidade socioeducativa de semiliberdade na zona Oeste de Natal, durante a manhã da última sexta-feira. Viciado em drogas desde os cinco anos de idade, ele havia sido apreendido na última quarta-feira, acusado de furto. Na ocasião, havia admitido ser viciado desde os cinco anos e dito que "não aguentava mais" aquela vida. Mas, com as portas abertas para a liberdade, deixou a instituição para retornar à mesma realidade.
Apesar de relatar que o jovem possui diversos processos por furto, a agente Jaqueline Morais, chefe de investigação da Delegacia de Atendimento ao Menor Infrator (DEA), garante que "ele não é um menino mau" e que o rapaz já pediu para ser internado para tratamento. Contudo, foi sentenciado a um regime brando pelo juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude de Natal, José Dantas, que lhe permitiu escapar, sem ter acesso a uma reabilitação. Com a opção de ficar ou seguir, e diante de umaestrutura que não o comporta, o adolescente escolheu voltar para as ruas.
Jaqueline Morais afirma que o adolescente responde por diversas furtos cometidos na zona Oeste de Natal, onde mora. "Desde que tinha 12 anos de idade que ele é trazido para a delegacia, acusado de furto. Ele faz pequenos arrombamentos para sustentar o vício do crack". Há cerca de 45 dias ele estava foragido por ter escapado de uma medida socioeducativa por esse delito. Após buscas da Polícia, ele foi novamente detido na quarta e enviado para o Ceduc Nazaré, que atende adolescentes que cumprem medida de semiliberdade. Mas, segundo o coordenador da unidade, Moisés Silva, logo após o café da manhã, o rapaz deixou o local.
O que chama a atenção dos socioeducandos da unidade é o fato de o adolescente ter 14 anos e manter a aparência de um menino de oito anos. Além disso, conforme Moisés Silva, o garoto revelou que consume crack desde os cinco anos, tendo aprendido a fumar a droga ao ver o próprio pai fazê-lo. O próprio jovem já havia confessado a policiais ter consciência de que, com a droga, só poderá ter um dos dois destinos: "cadeia ou cemitério".
Apesar de toda a fragilidade social do rapaz, o coordenador do Ceduc Nazaré afirma não ter poderes para obrigar nenhum interno da unidade a ficar. "Aqui é cumprida a semiliberdade e o jovem tem o direito de sair para estudar. Alguns, no entanto, se evadem e não voltam". Ainda segundo Moisés Silva, a equipe do Centro Educativo tentou convencer o adolescente a ficar mais tempo. "A gente conversou, mas ele só aguentou ficar um dia. Ele precisa realmente de ajuda". O local, além de ter muros baixos, com altura média de 1,80 metros, estava ontem pela manhã com o portão de entrada aberto, onde outros jovens podiam ficar próximos.
Jaqueline Morais, da DEA, alega que o próprio menino já lhe pediu para ser internado. "Ele pede: tia, eu quero ficar. Eu já até brinquei com ele, dizendo que iria mandá-lo para Caicó e ele disse que aceitava. Ele quer estudar, quer largar o vício e precisa de ajuda. Mas sempre que vai para a semiliberdade, ele escapa". Ainda segundo a agente de Polícia, a mãe do menino sempre aparece na delegacia quando ele é detido, mas desconhece o pai do rapaz. "A família é totalmente desestruturada, por isso o menino não consegue uma saída".
Diário de Natal/Paulo de Sousa