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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Moradores de Ipanguaçu torcem por inverno brando


O início da sangria na barragem Armando Ribeiro Gonçalves, no último final de semana, não foi motivo apenas de festa para os moradores do Vale do Açu. No município de Ipanguaçu a apreensão é nítida. Em 2008, com o rio Açu cheio, outro rio da região, o Pataxó, teve seu leito “barrado” e suas águas terminaram por inundar toda a cidade. Calcula-se que 4 mil dos 14 mil moradores sofreram com a enchente, muitos dos quais perderam suas plantações e outros tiveram de deixar suas casas.


A aposentada Maria das Neves Bezerra, de 72 anos, foi uma das vítimas. Sua casa, uma das primeiras da zona urbana, virou “leito de rio” e ela e seu marido tiveram de deixar a moradia. “A água atingiu uns dois palmos de altura, a correnteza passava por dentro e por baixo e o piso chegou a ceder um palmo. As paredes racharam e por pouco tudo não caiu”, relembra a filha da aposentada, Maria de Lurdes Bezerra.


Maria das Neves e o marido tiveram de alugar uma residência em Ipanguaçu e depois foram morar com a filha. No último final de semana, as duas limpavam a casa para que a aposentada pudesse retornar, mas a incerteza ainda era grande. “Tivemos de refazer todo o piso, reforçar as paredes, mas decidimos não pintar ainda, por precaução, porque temos medo que tudo volte a acontecer este ano”, admite Maria de Lurdes.


Maria das Neves tem fé de que as cenas de desespero não se repitam este ano, mas sabe que isso vai depender do quanto o inverno será rigoroso. A esperança também é a tábua na qual se sustenta o agricultor José Teixeira do Nascimento. Ele teve parte das paredes de sua casa de taipa destruída pelas águas e decidiu não reconstruí-la. “Quem sabe se vai ter enchente de novo é Deus, mas decidi não tapar. Para quê? Se vier outra chuva como a do ano passado vai tudo embora de novo”, reconhece.


José Teixeira perdeu praticamente tudo e hoje dorme às margens da rodovia de acesso à cidade. Em toda zona rural, porém, o temor é grande, embora o fato de a sangria da Armando Ribeiro ter vindo relativamente tarde reduza o medo. “Se viesse em março, ou no início de abril, nossa preocupação era maior. Mesmo assim ainda ficamos na expectativa que possa acontecer tudo de novo”, afirma o agricultor Francisco de Assis Lopes, cuja casa e dos vizinhos foi tomada pelas águas 12 meses atrás.


Bate-papo: Leonardo Oliveira - Prefeito de Ipanguaçu


A sangria da Armando Ribeiro preocupa a população?Existe uma grande preocupação, mas que realmente só não é maior porque a sangria veio agora, já na segunda quinzena de abril. A nossa preocupação se deve ao fato de a cidade ser banhada por dois rios e um deles, o Pataxó, já chegou a colocar água às margens das comunidades mais baixas da zona rural, este ano, embora tenha reduzido um pouco o volume. Esse rio despeja água dentro do rio Açu. Em função da sangria da barragem, o Açu pode aumentar de nível e as águas do Pataxó terminam não tendo como desaguar e podem acabar alagando a cidade.


E os serviços que seriam feitos para prevenir a cidade das cheias?A limpeza da vegetação no Pataxó, feita pela Secretaria de Recursos Hídricos do Estado, vamos supor que tenha sido feita de 30% a 40%. É que o período de inverno dificultou o andamento.


Essa limpeza resolve, ou o que poderia solucionar em definitivo? Em definitivo, ou pelo menos uns 90%, seria concluir toda a limpeza do rio e o governo ter a responsabilidade de fazer a desassoreamento do Pataxó, com o serviço de dragagem. Agora os trabalhos começaram este ano, em março.


E há algum plano emergencial caso se repitam as inundações? Nossa equipe de Defesa Civil está se preparando, se for necessário, para a retirada de famílias das áreas que vierem a ser afetadas.

Fonte: Tribuna do Norte

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