A água já baixou, mas o cenário é de incerteza e preocupação em Ipanguaçu, cidade de 13.856 habitantes laureada pelos rios Piranhas/Açu e Pataxó, que estão obstruídos. A cidade espera um socorro financeiro de R$ 2.021.700,00 do Governo Federal, só para recuperar e construir casas e estradas destruídas pela enxurrada em 2004, 2008, 2009 e 2011.
“E essas são apenas as obras que a Defesa Civil Nacional assegurou que seria possível ressarcir, pois o total fechado do prejuízo entre público e privado (produção de banana e manga) não tem como ser calculado. Só estimado”, diz Luis Alberto Silva, presidente da Comissão Municipal de Defesa Civil. “Estamos à espera do socorro federal”, completa.
Quando se desmembrou de Santana do Matos, em 1938, época que ainda se chamava Sacramento, Ipanguaçu (nome indígena, que quer dizer ilha grande) quase não tinha problemas de inundações, conforme depoimentos dos moradores mais velhos da cidade. Ao longo dos anos, os dois rios começaram a sofrer as ações do homem.
Já na década de 80 e início dos anos 90, a mata ciliar começou a ser morta e em seguida vieram as grandes empresas do ramo da fruticultura, que praticamente compraram e assumiram a posse de quase 100% das áreas de solo fértil nas margens dos rios Pataxó e Piranhas. Sem a proteção da mata ciliar, o leito dos rios se fechou com terra e vegetações.
Como consequência natural, a antiga ilha grande (nome do pagé Ipã-guaçu) passou a ser inundada pela água represada nos dois rios, sempre que os açudes Armando Ribeiro Gonçalves e Pataxó transbordam com mais intensidade e isto aconteceu em 2004, 2008, 2009 e 2011. Desobstruí-los e evitar novas inundações e grandes prejuízos não é barato.
Só o estudo e o projeto custaram mais de R$ 1 milhão, recursos destinados pelo Governo Federal no período de 2007 a 2010. O projeto prevê a desobstrução do rio Pataxó e a construção de diques de contenção ao redor dos dois lados da cidade, num investimento inicialmente previsto em R$ 27,8 milhões. Deste valor, R$ 7,3 milhões foram liberados.
Mas não é a liberação destes recursos que o presidente da Comissão municipal de Defesa Civil, Luis Alberto da Silva e o prefeito Leonardo Oliveira pedem socorro. Das 163 famílias que tiveram suas casas inundadas, pelo menos 30 ainda estão em abrigos e escolas aguardando o socorro do Governo Federal para construir ou recuperar suas casas.
É o caso de Anailda de Oliveira Dantas, de 32 anos, casada e mãe de 3 filhos com idades de 3, 8 e 9 anos. Ela morava numa casa de taipa no bairro Maria Romana, área mais crítica da cidade, quando no dia 25 de abril foi retirada de casa pela Defesa Civil. “Botei na cabeça que agora só saio daqui para uma casinha para viver com meus filhos”, diz Anaílda Dantas.
Anaílda está alojada junta com outras 4 famílias numa fazenda Baldum. Perto de lá existe uma escola também lotada de moradores dos bairros Maria Romana, Ubarana, Sacramentinho e Arapuá. Mas nem todos os moradores respeitaram a ordem da Defesa Civil para sair das áreas de risco.
A dona de casa Elizabete nascimento de Melo, 35 anos, separada, 4 filhos, sendo de 16, 13, 8 e 5 anos, não aguentou ficar nas escolas junto com as outras pessoas desabrigadas pela enxurrada e retornou para sua casa em área de risco. “A Defesa Civil já avisou que todas as casas aqui serão demolidas e este local será proibido de construir, mas eu não tenho para onde ir hoje”, diz a dona de casa abraçada ao filho.
“É para estas pessoas que estamos pedindo mais agilidade na liberação do socorro financeiro no valor de R$ 2.021.700, 00. Estes recursos são para construir 43 casas num local afastado e recuperar outras 56 danificadas. Também aguardamos para recuperar as estradas, que neste caso a Prefeitura já está fazendo o serviço por conta própria”, conta Luis Alberto.
Mas o principal socorro aguardado pela população de Ipanguaçu, segundo o prefeito Leonardo Oliveira, são as obras que vão reduzir novas inundações como a desobstrução do rio Pataxó e a construção dos diques, orçadas em R$ 27,8 milhões. Com os 7,3 milhões já liberados pelo Governo Federal, o prefeito acredita que em 90 dias terá condições da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) iniciar as obras.
Fonte: Jornal de Fato
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