A Aids é até hoje uma das doenças mais temidas pela população, sobretudo por não ter cura. Hoje, no Dia Mundial de Luta Contra à Aids, nos deparamos com notícias que só revelam o quanto a população ainda necessita se conscientizar para reduzir a disseminação do vírus HIV. De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, houve uma queda da incidência de Aids no Sudeste, porém aumento no Nordeste.
Os dados são de 2008 e mostram que de 1980 a junho de 2008 foram registrados 506.499 casos de Aids no Brasil. Durante esses anos, 205.409 mortes ocorreram em decorrência da doença. A epidemia no país é considerada estável. A média de casos anual entre 2000 e 2006 é de 35.384. Em relação ao HIV, a estimativa é de que existam 630 mil pessoas infectadas. E há um aumento da taxa de incidência no Nordeste, cujo índice subiu de 6,9 para 10,6 de 2000 para 2006.
No Nordeste foi registrado também um crescimento na incidência da doença em crianças menores de cinco anos, com uma elevação de 0,9 para 2,0. Dois grandes problemas que levam a esse aumento de casos é a falta de consciência das pessoas para se protegerem ao terem relações sexuais e ainda a baixa adesão ao tratamento por medo do preconceito. Segundo a assistente social do Aprendendo a Viver Positivamente (GAV+), Sandra Lúcia Pinheiro, apesar de não possuir números concretos, nos últimos meses a instituição tem registrado um grande número de portadores que abandonam o tratamento.
"Eles têm medo do preconceito, que as pessoas fiquem perguntando por que eles tomam tantos medicamentos. Além disso, quando eles começam a ter um relacionamento não falam da doença e automaticamente abandonam o tratamento para não chamar atenção do companheiro, principalmente por causa dos efeitos colaterais", explica a assistente social.
A quantidade de medicamentos diários depende do esquema definido para cada paciente. A assistente social conta que alguns chegam a tomar até 10 comprimidos diariamente e há ainda a possibilidade de uma injeção que substitui até três tipos de medicamentos. "Os esquemas são moldados conforme a carga viral e a imunidade de cada um. Cada grupo de remédios age de uma forma diferente", diz ela.
Apesar dos números assustadores que a doença apresenta, o interesse em realizar campanhas e prevenir contra a Aids não mobiliza nem mesmo as autoridades ligadas à saúde. "Hoje em dia não há mais um trabalho realizado o ano inteiro; quando passa o dia 1º ninguém lembra mais do assunto. O MS não manda mais cartazes e nem panfletos com informações e dicas de prevenção. Nem camisetas eles mandam. Se a coordenação quiser tem que ir ao site e imprimir o material", revela.
Atualmente existem cerca de 200 pacientes cadastrados no GAV+, porém existe um número muito maior de pessoas que frequentam a entidade, mas preferem não se cadastrar. "Nós temos dois tipos de pacientes, os que frequentam e fizeram o cadastro e os que não querem fazer, pois têm medo. Os cadastros, que inclusive foram elaborados por mim, pedem muitas informações que são necessárias para desenvolvermos nosso trabalho", conta Sandra.
Ela explica que parte do trabalho da equipe é conquistar a confiança dos portadores para que eles façam o procedimento. Pacientes de várias localidades, como cidades vizinhas a Mossoró e três cidades do Ceará, buscam apoio no trabalho voluntário realizado pela instituição. "Lá nós somos psicólogos, advogados e outras coisas, pois atendemos aos pacientes e suas famílias", conta.
"Temos que escutar quando eles estão angustiados, conversamos e ouvimos o que eles têm para contar. Ainda os levamos para exames, consultas, resolvemos questões no INSS entre outras coisas. Dessa forma, a gente fica sabendo também que eles pegam medicamentos no hospital e não tomam. O hospital não sabe, mas nós sabemos", completa a voluntária.
Dentro do GAV+ as atividades realizadas se dividem em dois subgrupos. O primeiro, o Cidadãs Positivas realiza reuniões, oficinas, tira dúvidas das mulheres portadoras do vírus através de palestras com especialistas no assunto. O outro grupo é o da Rede Nacional de Pessoas vivendo com HIV-Aids (RNP). Sandra conta que os pacientes pedem também que a equipe do grupo converse com a família e falem da doença.
"Poucos sabem realmente o que é a doença e enfrentam o preconceito dentro de casa. Nós vemos que está crescendo muito o numero de pessoas infectadas e não adianta mandar usar a camisinha, porque não estamos lá na hora para ver. Informações eles têm. Quando termina essas festas grandes em Mossoró nós já esperamos pouco tempo depois o aparecimento de novos casos. A história de que "não vai acontecer comigo" ainda existe", garante Sandra.
Outra constatação, conforme a assistente social, é que muitas vezes, por revolta, homossexuais, travestis e até mulheres que se prostituem não contam que são portadores e disseminam o vírus. "Já vimos vários casos que em alguns momentos, por revolta, eles transmitem a doença de forma proposital, pois querem responsabilizar a população pela própria situação. Juntando isso com a falta de consciência das pessoas, elas viram presa fácil", revela a voluntária.
Mas, mesmo com a difícil situação, Sandra acredita que é possível mudar a conduta das pessoas. "Se a gente pudesse abrir a cabeça das pessoas e colocar isso dentro, a gente faria. Quando a gente conversa com estudantes nas escolas a gente percebe como é difícil. Temos pacientes com 15, 17, 20 anos, meninas bonitas que já são portadoras. As famílias deveriam parar com o machismo e falar abertamente com os filhos sobre o assunto. Essa historia de que a camisinha atrapalha, que não vai sentir nada, persiste; o problema é que depois não tem volta", conclui Sandra.
fonte: O Mossoroense
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