Bananas produzidas no Vale do Açu não melhoram a vida da população, que está abaixo da linha de pobreza, conforme o Atlas
O que está acontecendo então que empresas como a Delmont não promovem o desenvolvimento das localidades onde está instalada? Para o professor do departamento de economia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e doutor em desenvolvimento rural pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Emanoel Márcio Nunes, a resposta é simples: o modelo de grandes empresas adotado no Vale e em outras regiões não promove o desenvolvimento local.
Emanoel estudou o setor agrícola do Polo Assú-Mossoró para sua tese de doutorado e defendeu que grandes empresas como a Delmont, Maisa e Frunorte sugam as riquezas das localidades em que se instalam e não deixam nada em troca.
O professor disse que o modelo baseado na grande empresa tinha a intenção de modernizar a agricultura e eliminar os pequenos agricultores e transformá-los em empregados. Para ele, esse modelo é vantajoso para um pequeno grupo de empresários, que operava com o dinheiro subsidiado pelo Estado, enquanto que os trabalhadores acabaram sendo “escravizados”.
Emanoel lembrou que as “gigantes” fecharam com o fim da farra dos subsídios. “A Maisa, em Mossoró, e a Frunorte, no Vale, fecharam e não deixaram resquícios de desenvolvimento”, destacou, acrescentando que, na verdade, a região ficou ainda mais empobrecida.
De acordo com o professor, o modelo de criar polos industriais morreu nos anos 70 nos Estados Unidos, “mas no Nordeste ainda é muito forte. A Maisa e a Frunorte são frutos desse modelo, que busca resultados imediatos. O Governo coloca uma grande empresa numa cidade e espera que as coisas se transformem do dia pro outro, quando o correto seria criar políticas consistentes para desenvolver as potencialidades existentes na região”, ressaltou.
Abaixo da linha de pobreza
Mesmo contando com a presença de um gigante do setor alimentício, o município de Ipanguaçu não consegue se desenvolver e melhorar seus índices sociais. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, 41.4% da população da cidade está abaixo da linha de pobreza. Outros 27.1% da população está entre a linha de indigência e pobreza. Enquanto que apenas 31.4% da população está acima da linha de pobreza.
Para o professor Emanoel, esta é mais uma prova de que as grandes empresas não resolvem os problemas sociais das cidades. Mesmo com a Delmont empregando milhares de pessoas, a cidade continua na miséria. “Esses empregos são na maioria das vezes subumanos”, observou.
A mesma tendência de pobreza é seguida por outros municípios que concentram grandes empresas. Em Baraúna, município que herdou grande parte da produção de melão antes feita no Vale, 37.5% da população está abaixo da linha de pobreza. Outros 32% estão entre a linha de indigência e pobreza. E somente 30.5% da população de Baraúna está acima da linha de pobreza.
Apesar dos números, o prefeito do município, Aldivon Nascimento, afirmou que as grandes empresas da fruticultura dão uma grande contribuição social para o município ao gerar milhares de empregos. “Onde há emprego, há desenvolvimento”, argumentou. Os empregos são, justamente, a única contribuição dessas empresas para o município, já que elas são isentas de impostos.
Aldivon reconheceu que a sazonalidade dos empregos e a migração das empresas são grandes problemas, mas voltou a reiterar que os empregos gerados pelo sistema fazem girar a economia da cidade. “O nosso município tem a sorte de ter a fruticultura”, destacou.
A riqueza gerada pelas grandes empresas nos municípios não representa desenvolvimento certo geralmente porque essa riqueza é mandada para fora. O município de Porto do Mangue, por exemplo, tem a segunda maior renda per capita do Vale do Açu, mas também o pior IDH da região. A cidade tem riquezas, mas o povo não consegue acessá-las. Em Porto do Mangue, 41.4% da população vive abaixo da linha de pobreza. 30.2% da população está entre a linha de indigência e pobreza. Enquanto que apenas 28.4% da população está acima da linha de pobreza.
O município de Assú tem renda per capita três vezes menor que Porto do Mangue, mas apresenta índices de desenvolvimento humano superiores.
O IDH de Assú (0,677) é o segundo melhor da região, inferior apenas ao de Alto do Rodrigues (0,688), que tem renda per capita quatro vezes maior. Enquanto que o percentual da população abaixo da linha de pobreza (25,1) é quase metade da registrada em Porto do Mangue. “Os governos precisam entender que o desenvolvimento se dá por baixo, começando pelo pequeno, através de políticas sustentáveis. Se a política de apostar no grande continuar, vamos ter sempre uma região sem desenvolvimento, especialmente social”, ressaltou Emanoel.
fonte: Magno Alves - do Jornal de Fato
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