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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Escolas públicas lutam contra a depredação


Priscilla Castro - Repórter

Paredes e muros pichados, portas e cadeiras quebradas, quadros inutilizados e mobiliário em falta configuram o cenário de muitas escolas públicas do Rio Grande do Norte. A depredação do patrimônio ainda é realidade para a rede pública de ensino e a fonte do problema está em todos os lados, inclusive dentro da escola, com os próprios alunos.


Na Escola Estadual Floriano Cavalcanti (Floca), as consequências do vandalismo são visíveis já do lado de fora. No muro que rodeia a escola, praticamente tudo está pichado. Palavras de baixo calão, xingamentos e provocações são o cartão de visita do colégio. Na parte de dentro, carteiras quebradas empilhadas pelos cantos, banheiros sem porta e reclamações por todos os lados.

Pela manhã, dois funcionários ficam responsáveis por coordenar os corredores. O problema é quando um falta. “São 1200 alunos aqui de manhã e eu fico sozinho para controlar todo mundo. É impossível isso”, disse o coordenador de corredor Clédson Mário. Segundo ele, a situação é ainda pior quando falta professor. “Hoje faltaram nove professores, o que significa que tem 360 alunos aí correndo nos corredores. Mas a gente faz de tudo para levá-los para o pátio, porque se ficarem na sala sozinhos é que vem o problema”, contou.

Em um dos banheiros masculinos, uma torneira foi quebrada, uma pia teve que ser retirada e a fechadura da porta não existe mais. Nas salas de aula, os professores reclamam que não podem mais usar os quadros pichados. Além disso, ventiladores e peças do mobiliário desaparecem constantemente. “Recebemos essas carteiras novas há dois meses e quase todas já estão sem o alumínio que revestia a mesa”, reclamou o professor de matemática João Batista.

Em dois meses de aula, o colégio já teve 25 alunos suspensos e seis transferidos para outras escolas, por causa de brigas ou vandalismo. Na Escola Estadual Walter Duarte Pereira, na zona Norte, mesmo com a prevenção reforçada, o patrimônio público é afetado. Apesar do aspecto “limpo” do colégio, com os muros e paredes bem pintados, as outras partes sofrem as ações dos alunos.

Na quadra de esportes, as luminárias foram quebradas no mesmo dia em que foram colocadas. Nos banheiros, praticamente todas as portas e bancos estão riscados. Nem mesmo o ônibus que leva os alunos para a escola é conservado pelos estudantes. A vice-diretora Selma Nascimento disse que precisou ameaçar parar com o transporte porque os alunos estavam quebrando os bancos.

As salas estão conservadas por causa do projeto ‘Sala Ambiente’, implantado na escola. Quando acaba o horário, quem troca de sala é o aluno. O professor fica onde está. Além disso, quando não tem aula, as salas ficam de portas trancadas. “Até o banheiro masculino é fechado a cadeado. Quem precisa, tem que procurar o funcionário que fica com a chave”, explicou a vice-diretora.

Falta policiamento nas escolas

O vandalismo não deve ser combatido só dentro da sala de aula. É muito comum a depredação acontecer também pelas mãos de quem está do lado de fora. A falta de um policiamento adequado nas escolas é fator favorável para que os muros amanheçam pichados ou quebrados.

Os colégios da rede estadual não possuem qualquer tipo de policiamento. Na hora das aulas, quem faz a vez de guarda é o porteiro. Mas à noite e nos fins de semana, os vândalos das ruas ficam livres para agir. A Escola Estadual Francisco Ivo é exemplo do vandalismo externo. Parte da cobertura do ginásio foi roubada em 2004.

Em Ipanguaçu, a Escola Estadual Manoel de Melo é outra. A causa, entretanto, é um pouco diferente. A escola abriga hoje cerca de 30 famílias vítimas das enchentes. Segundo a diretora Maria de Lurdes, os banheiros estão sem portas e as pias, descargas e lâmpadas estão quebradas. “Alguns danos são irreparáveis. As pessoas parecem que não têm consciência do que é patrimônio público. Além de estar tudo quebrado, até animal eles trazem. É cavalo, porco, tem de tudo”, reclamou a diretora.

Nos Centros de Atenção Integral à Criança (CAICs), o vandalismo também preocupa. A Escola Estadual Professor Reginaldo Teófilo é uma das que estão abandonadas. Além de ser escola, é também alojamento para estudantes em época de competições esportivas. O coordenador de obras da Secretaria Estadual de Educação, Afonso Cordeiro, admitiu a situação. “Muitos Caics daqui estão destruídos, a estrutura foi totalmente abandonada”.

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação, encontra-se em estudo um convênio com a Polícia Militar a fim de aumentar a segurança nas escolas localizadas nas áreas de risco, por meio de um policiamento extensivo.

Jovens precisam de limites e exemplos

Nas escolas de Ensino Médio, o problema resiste por causa da dificuldade dos gestores em lidar com os adolescentes. Para a psicóloga Beatriz Lima, qualquer aluno que esteja nessa ‘fase de transição’ precisa de uma base de limites e exemplos. “A conversa ainda é a melhor saída, mas é necessário que ele saiba que existem regras que, se não forem cumpridas, resultará em punição. O exemplo em casa e na escola é fundamental. Se o aluno ver a escola limpa, ele vai ter mais vontade de conservar aquilo”, explicou.

Mas o papel dos gestores das escolas vai além de controlar os alunos. Eles também são responsáveis pelo bom uso da verba que recebem. O coordenador de obras da Secretaria Estadual de Educação, Afonso Cordeiro, contou que em algumas escolas, a diretoria demora até dois meses para usar o dinheiro que já está na conta. “Cada escola pode solicitar à Secretaria até R$15 mil por ano para a manutenção com estrutura. A diretoria decide como quer que a obra seja feita. Pode contratar uma empresa ou os pedreiros da comunidade. Mas no final do ano, eles devem prestar contas e mostrar todas as notas fiscais”.

Até maio deste ano, o Governo Estadual gastou cerca de R$ 3 milhões com a manutenção de 230 escolas em todo o Rio Grande do Norte. Afonso Cordeiro não soube precisar quanto desse dinheiro foi gasto apenas com reparos dos estragos do vandalismo, mas presumiu que em torno de 20% (R$600 mil) tenha sido direcionado apenas para tal fim. A reparação de muros e a substituição de portas são os reparos mais comuns. Já foi gasto R$1.365.954,00 em carteiras, bebedouros e armários para as escolas.

Na rede municipal, os gastos da Prefeitura com manutenção somaram R$350 mil e, até o final deste mês, cerca de R$1 milhão deve ser investido em reformas. Quanto ao mobiliário, carteiras e quadros são as peças que mais precisam ser trocadas.

Gestores revertem vandalismo

Apesar de ser um problema geral, o vandalismo foi revertido em muitas escolas. Os gestores conseguiram diminuir os atos de selvageria através de políticas de inclusão do aluno, de co-responsabilidade e de atuação dos pais na vida escolar do filho.

Segundo a pedagoga especialista em educação, Cláudia Santa Rosa, a educação da criança precisa ser sustentada por três bases principais: família, escola e sociedade. Na Escola Estadual Hegésippo Reis, os gestores decidiram atuar diretamente em cima desse tripé. Através de assembleias semanais, os alunos podem opinar e se envolver na gestão escolar. Além disso, existem quatro grupos de co-responsabilidade entre os alunos, entre eles, o Grupo de Preservação do Meio Ambiente e do Patrimônio.

Na Escola Estadual Raimundo Soares, desde que o programa “Sala Ambiente” começou, os atos de vandalismo diminuíram. “Cada dia era uma parede ou um muro pichado, mas agora como o professor está ali para dar uma olhada, fica mais difícil para o aluno fazer alguma coisa de errado”, explicou a diretora Nazaré Negreiros.

Já na Escola Estadual Deputado Márcio Marinho, o método aplicado foi um pouco mais rigoroso. De acordo com a diretora Marlene Soares, a regra é “quebrou, pagou”. “Quando os pais começaram a ter que pagar pelos estragos dos filhos, a conversa mudou. Os alunos agora estão evitando mesmo quebrar as coisas aqui, já que o dinheiro vai sair do bolso deles”, explicou Marlene.

SME estuda instalação de câmeras

Apesar de dividir a opinião dos especialistas, a vigilância por câmeras nas escolas pode ser um recurso eficaz contra o vandalismo. Na Secretaria Municipal de Educação (SME), está em execução um levantamento da necessidade das escolas e creches para que seja instalado o sistema de segurança eletrônica.

As câmeras terão como objetivo principal a prevenção do vandalismo que vem de fora, como os pequenos furtos e as pichações dos muros. Segundo a assessoria de imprensa da SME, as câmeras devem ser instaladas nos corredores e em outras áreas comuns dos colégios. A estimativa é de que até o final do ano o sistema esteja instalado em todas as 126 instituições de ensino (escolas e centros de educação infantil).

Hoje, algumas escolas da rede estadual já possuem sistema de vigilância eletrônica, por câmeras ou sensores, mas apenas nas salas dos diretores ou áreas comuns. Para o coordenador de obras da Secretaria Estadual, Afonso Cordeiro, o sistema é eficiente no combate ao vandalismo dos alunos, mas o assunto ainda não é projeto da Secretaria. A câmera, entretanto, não resolve o problema por si só. Juntamente com a vigilância eletrônica, é necessário haver um trabalho de realimentação por parte dos gestores da escola. Segundo a psicóloga Beatriz Lima, um feedback é fundamental para o sucesso do procedimento. “Nada vai ser resolvido do jeito certo, se a escola apenas colocar a câmera ali e for embora. É necessário que haja o desenvolvimento do respeito por trás de tudo isso”, explicou.

Já a pedagoga Cláudia Santa Rosa se mostra contrária à instalação das câmeras. Para ela, a vigilância não trabalha a consciência do aluno e, por isso, não é solução. “A vigilância não educa, nem impede o jovem de cometer o erro. Apenas faz com que ele fique mais dissimulado”, disse.

Fonte: 05/06/2009 - Tribuna do Norte

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